Monday, October 29, 2007

manhã


Fernando Botero, Quarto de banho, 1989

Ela gostava de se arranjar com calma.
De manhã, logo depois de acordar, tomava um banho quente que a fazia sentir mais acordada.
Depois do banho ficava a ver-se ao espelho. Ficava, por muito tempo, a acariciar o rosto, a perceber cada contorno do corpo. Dava-lhe um prazer imenso acariciar a pele, passar as mãos pelo cabelo...
Perfumava-se e deliciava-a sentir como o perfume se alterava em contacto com a sua pele, como o odor se alterava com o tempo...
E, enquanto assim, embrenhada com o prazer do corpo nú, ouvia os ruídos da rua: os carros que passavam, os que paravam, as vozes de quem conversava lá fora.
E ouviu o carro que parou e o barulho da sua caixa do correio... e com mais prazer pressentiu que aquele som era o mensageiro de uma sensação ainda melhor do que o toque da sua pele...
E a sua imagem no espelho sorriu.

Tuesday, October 23, 2007

carta


Fernando Botero, Homem com cão

Parou o carro.
Já antes, por várias vezes, tinha passado na rua dela sem ter coragem de parar. E, afinal, era tão simples!
Desta vez parou.
No meio da rua, mesmo sem desligar o carro, segurou a carta e quase correu para o passeio.
Já trazia no rosto um sorriso. Com um gesto decidido colocou a carta na caixa do correio e voltou-se para regressar ao carro.
Iluminado. Um sorriso ainda mais aberto. No olhar trazia a antecipação da resposta.
E imaginava-a a abrir a caixa do correio, a olhar para o envelope sem remetente, imaginava o espanto no seu rosto, o sorriso da surpresa. E ela a abrir o envelope e a ler a carta e o rubor na face que sabia a assaltaria.
E sabia também, e agora o sorriso feliz que trazia enquanto se encaminhava de novo para o carro, já traduzia essa certeza, que ela não tardaria a responder-lhe.
E, ainda no meio da rua, sentia já o cabelo dela, as cócegas que os caracóis dela lhe iriam fazer na palma da mão. Sentia já o cheiro dela, a maciez da pele dela, o beijo dela, a voz dela, as palavras doces dela, o riso dela, o toque da mão dela…
E, com os olhos a emoldurar um sorriso satisfeito, entrou no carro e arrancou.

Monday, October 22, 2007

asas


Asas sevem para voar
para sonhar ou para planar
Visitar espreitar espiar
Mil casas do ar


As asas não se vão cortar
Asas são para combater
Num lugar infinito
para respirar o ar


As asas são
para proteger te pintar
Não te esquecer
Visitar espreitar-te
bem alto do ar


Só quando quiseres pousar
da paixão que te roer
É um amor que vês nascer
sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
aconteça o que acontecer.


GNR

Thursday, October 18, 2007

aquecimento global (3)


Berlengas, Agosto 2007


Alguns dos dias de Verão foram muito, mas mesmo muito quentes.
E quando assim é, há que encontrar soluções. As senhoras das fotografias encontraram uns bonés muito engraçados, com uma pequena ventoínha instalada na pala, o que permitia terem sempre o rosto fresquinho. Claro que, para que as ventoínhas funcionem é necessário que lhes seja fornecida energia. As pilhas são pesadas e, além disso, têm consequências muito nefastas sobre o ambiente.
Mas até para isso há solução. E esta, muito amiga do ambiente: atrevia-me a chamar-lhe "painel solar"!

fazes muito mais que o sol

Há coisas assim. Que nos fazem sorrir, cantar... Que despertam o melhor que temos dentro de nós. Que nos abrem as portas das coisas boas, que nos iluminam.
Esta música é assim. Lembra-me as gargalhadas partilhadas, olhares de cumplicidade, sorrisos, beijos, passeios de mãos dadas a fugir da chuva no verão...



Tiago Bettencourtt e Mantha, Canção simples

E o gosto da pele
e a cor dos olhos
e os pés na areia molhada
tu
e a felicidade!

Sunday, October 14, 2007

para ser grande, sê inteiro

Hoje disseram-me que morreste.
Vou recordar-te sempre pelo que, da vida, me ensinaste...



"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"


Ricardo Reis

Thursday, October 11, 2007

responsabilidade


amor mudo



Ardendo de amor, as cigarras
cantam: mais belos porém
são os pirilampos, cujo mudo amor
lhes queima o corpo!


Herberto Helder

Wednesday, October 10, 2007

gotas

A música. Ainda a música e cada vez mais a música. Para preencher o espaço do que falta. Como se fosse possível compensar-me, preencher um vazio...
Esta é uma das músicas da minha vida.


Train, Drops of Júpiter

(...)

Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back to the milky way
And tell me, did venus blow your mind
Was it everything you wanted to find
And did you miss me while you were looking for yourself out there

Can you imagine no love, pride, deep-fried chicken
Your best friend always sticking up for you even when I know youre wrong
Can you imagine no first dance, freeze dried romance five-hour phone
Conversation
The best soy latte that you ever had . . . and me

Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back toward the milky way

Sunday, October 7, 2007

close to me

Continuo a gostar deste som...
Close to me, de The Cure, uma excelente companhia na juventude. E hoje também!


aquecimento global 2

O vídeo que se segue foi feito por um grupo de jovens brasileiros, de Recife.
Importa mesmo ver. Mesmo que choque. Afinal é mesmo este o mundo em que vivemos. E somos nós que o fazemos...

Saturday, October 6, 2007

e-ventos tecnológicos

O meu amigo Filipe Silva tem um blogue muito interessante, que vale a pena visitar. Cheio de informações importantes relacionadas com informática, um montão de truques fáceis para aproveitar recursos e muitas sugestões de sites e programas para quase fazer magia com o computador. Podem visitá-lo em http://e-ventos-tecnologicos.blogspot.com/

Wednesday, October 3, 2007

aquecimento global

Para pensar...




e agir!

Tuesday, October 2, 2007

não sei como dizer-te

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

(...)

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,


que te procuram.


Herberto Helder